quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Creta - A Maior das Ilhas Gregas 6º ANO

Berço de uma das mais brilhantes civilizações da antiguidade européia, a minóica ou minoana, a ilha de Creta guarda vestígios de seu passado pré-helênico. Um exemplo são as notáveis ruínas do palácio de Cnossos.

Creta, a maior das ilhas gregas do mar Egeu, constitui uma região administrativa da Grécia, junto com as ilhas de Gaudos e Dia. Está situada no limite sul do mar Egeu, entre a África, a Anatólia e a Europa. Tem 8.261km2 de superfície e configuração alongada, com 200km de comprimento, 57km de largura máxima e 12km de largura mínima. Sua história lhe concede uma importância comparável à de territórios independentes muito maiores.

Dominam o relevo cretense quatro maciços montanhosos terciários, no sentido leste-oeste: os montes Brancos (Levka Ori); os montes Ida (Idhi ou Psiloritis), onde se encontra o pico culminante da ilha, o Stavros (2.456m); os montes Dhikti e os montes Thrifti. Um quinto maciço, o Asterousia, separa a costa meridional da planície de Mesará, a principal da ilha. Os solos são rochosos, apresentando-se fortemente erodidos. Traço peculiar de Creta são as profundas ravinas nas zonas montanhosas, como a garganta de Samaria, que se estende por 17,6km. São muitas também as cavernas. Há apenas seis rios em Creta: os principais são o Platanias, o Milopotamos, o Anapodharis e o Ieropotamos. A ilha é sacudida por abalos sísmicos ocasionais.

O clima varia entre o temperado e o tropical. A precipitação média anual é de 640mm e concentra-se sobretudo no período outubro-março. No verão, as brisas marinhas refrescam as regiões litorâneas, não sendo, porém, suficientes para vencer a seca no interior. Séculos de desmatamento e agricultura intensiva fizeram com que a floresta, que outrora cobria grande parte da ilha, fosse substituída por uma vegetação mirrada, típica do Mediterrâneo, denominada maquis ou garigue. A flora não difere essencialmente da continental, mas há várias espécies nativas e acredita-se que o marmelo seja originário de Creta. A espécie animal mais interessante é o agrimi, uma cabra selvagem já quase extinta.

A moderna ilha de Creta divide-se em quatro prefeituras, subdivididas em comunidades. As duas cidades principais, Heráclion (a histórica Cândia) e Canéia (Khania), concentram cerca de um quarto da população total. Apesar da baixa densidade demográfica, a população excede as possibilidades econômicas locais, o que determina um constante movimento imigratório.

Quase todos os cretenses filiam-se a um ramo especial da Igreja Ortodoxa, subordinado diretamente ao patriarcado de Constantinopla. Há alguns católicos, não restando, porém, vestígios da antiga comunidade judaica. A população muçulmana emigrou em massa antes e depois da convenção de Lausanne que, em 1923, depois da guerra entre a Turquia e a Grécia, regulou a troca de populações entre os dois países, tornando aquela emigração obrigatória.

A principal atividade econômica é a agricultura, caracterizando-se a estrutura fundiária pelo extremo retalhamento das propriedades, e apenas uma pequena parcela do território é cultivada. A produção cretense de azeite chega a mais de um terço do total da Grécia. Outros produtos importantes são os cereais, entre os quais predominam a cevada e a aveia. Nas encostas das colinas cultivam-se frutas e uvas, das quais se obtém um vinho famoso desde a antiguidade. Nessas mesmas áreas são criados carneiros e cabras, em regime de seminomadismo. As indústrias, de pequena dimensão, são quase todas de produtos alimentícios. A expansão do turismo criou nova fonte de renda e de empregos.

Arqueologia e História

A mais antiga e notável das culturas do Mediterrâneo oriental desenvolveu-se em Creta e tomou o nome de minóica ou minoana, designação que deriva de um legendário soberano da ilha, Minos, que teria vivido três gerações antes da guerra de Tróia. No quarto milênio antes da era cristã chegaram à ilha povos de cultura neolítica que se estabeleceram no litoral e logo passaram a sofrer as influências culturais procedentes do Egito e de outras regiões da África setentrional.

A civilização fundada por esses primitivos povoadores divide-se em três períodos fundamentais: minóico arcaico, entre 3000 e 2200 a.C.; minóico médio, que durou de 2200 a 1600 a.C.; e minóico tardio, que vai de 1600 a 1200 a.C. As datas limites assinaladas variam ligeiramente segundo os pesquisadores da antiga cultura cretense, entre os quais se destaca o inglês Sir Arthur Evans, que realizou importantes escavações na ilha, principalmente nas ruínas da antiqüíssima cidade de Cnossos, na primeira metade do século XX.

No primeiro período, o minóico arcaico, surgiram povoados e cidades, onde começou o cultivo de cereais e olivas. Desenvolveu-se também a criação de gado, porcos e cabras. Nas artes manuais destacaram-se a cerâmica, que já apresentava algumas peças vitrificadas, e a produção de sinetes de marfim. Os locais dedicados ao culto religioso eram as cavernas, adornadas com estatuetas de divindades femininas de saia longa, até o chão, e um corpete justo, que deixava os seios desnudos. Chifres de boi e machados de dois gumes eram os símbolos do culto à divindade principal: a dadivosa mãe-terra.

O período minóico médio caracterizou-se pela construção de grandes palácios, dos quais os mais importantes se encontravam em Cnossos e Festos. Além de servirem de alojamento para o soberano e sua corte, eram centros políticos, administrativos e religiosos. O de Cnossos tinha vários andares, escadarias monumentais, salas de despacho, alas para os cortesãos, salas de banho com água corrente e despensas para armazenar os produtos. As salas eram adornadas com colunas de madeira, assentadas sobre bases ornamentais de pedra, e as paredes decoradas com afrescos em cores brilhantes, representando figuras humanas, animais e plantas.

Jardins e pátios circundavam os diferentes pavilhões que constituíam o conjunto palaciano. Graças a sua poderosa esquadra, Creta dominava o Mediterrâneo, o que lhe permitiu estabelecer relações comerciais com a maioria dos países vizinhos. Os antigos cretenses mantiveram estreitas relações com o Egito: nas pinturas murais dos túmulos dos faraós e de outros altos dignitários da corte vêem-se representações de emissários de Creta levando como presente produtos da ilha. Também se encontraram exemplares de cerâmica no Egito, assim como obras de arte egípcias no império cretense.

Foi nesse período que surgiu uma escrita hieroglífica própria, que com o correr do tempo se transformou numa escrita silábica, a que Evans chamou de linear A, com textos em um idioma que não pertence à família das línguas indo-européias. A escrita linear A ainda não foi decifrada. A partir dela desenvolveu-se posteriormente, ao que parece durante o período minóico tardio, a escrita denominada linear B, com textos em grego arcaico, e que foi também usada em Micenas e Pilos, na Grécia continental. Seus caracteres foram decifrados em 1952.

No último período minóico, o tardio, começou a reconstrução, em escala grandiosa, dos palácios destruídos por uma das erupções vulcânicas que abalavam periodicamente a ilha. Creta chegou então ao auge de seu poder. Foram centros importantes Cnossos, a capital, Festos, Gurnia, Hagia Tríada e outras cidades, que se comunicavam entre si por meio de boas estradas, utilizando carros puxados por cavalos, possivelmente trazidos do Egito. O comércio marítimo e as obras de arte cretenses chegaram a quase todas as regiões do mundo mediterrâneo. As inscrições que datam do minóico tardio encontram-se em idioma grego e nos caracteres da escrita linear B. No plano político, é possível que Creta, pelo menos parcialmente, estivesse sob a influência dos gregos de Micenas.

Por volta de 1400 a.C., ocorreram novas erupções vulcânicas e os palácios de Creta sofreram uma segunda destruição. Lentamente, a cultura local entrou em declínio, enquanto Micenas atingia seu apogeu, dando continuidade, no continente, à cultura . A lembrança de Creta continuou viva, porém, na Grécia clássica, por meio da mitologia, que localizava na ilha muitos de seus episódios. Zeus, o deus supremo, teria nascido nos montes Ida.

Foi a tradição grega que elaborou e difundiu a história do rei cretense Minos, filho de Zeus e Europa. Segundo a lenda, Minos disputou com os irmãos o privilégio de reinar sobre toda a ilha, baseando-se em que os deuses lhe haviam atribuído o poder. A seu pedido, Posêidon presenteou-o com um touro destinado a sacrifício, confirmando assim suas prerrogativas de governante único de Creta. Recusando-se a sacrificar o animal, Minos sofreu a vingança dos deuses, que fizeram sua mulher, Pasífae, apaixonar-se pelo touro, de quem teria concebido um ser monstruoso, metade homem, metade touro, o Minotauro, para o qual se construiu um labirinto que pudesse escondê-lo.

A lenda do Minotauro revela, em seus diversos componentes, os ecos de uma concentração de poder na Creta pré-helênica, configurada à semelhança das teocracias de modelo oriental, inclusive na vinculação de um animal sagrado à soberania. De Homero aos escritores tardios, a tradição helênica fixou a recordação de Creta como uma ilha densamente habitada com povos de diferentes dialetos, repleta de opulentos palácios, onde Minos distribuía a justiça inspirada pelo próprio Zeus.

Após o desaparecimento da civilização , a ilha foi ocupada por tribos gregas dóricas, que durante muito tempo constituíram o grupo étnico dominante e instituíram em Creta uma organização social semelhante à de Esparta. A ilha caiu sob o domínio de Roma em 67 a.C. e foi anexada à província da Cirenaica, na África do Norte. Com a fragmentação do Império Romano, Creta ficou sob a tutela de Bizâncio, capital do Império Romano do Oriente. No ano de 826, Creta foi conquistada por árabes provenientes da Espanha. Recuperada pelos bizantinos em 960, passou ao domínio de Veneza em 1204 com o fim da quarta cruzada.

Os venezianos estabeleceram em Creta, então chamada Cândia, uma das bases de seu império marítimo e comercial. A partir do século XVII a ilha caiu aos poucos sob o domínio otomano, que durou mais de dois séculos. A economia sofreu uma fase de estagnação e várias revoltas foram violentamente reprimidas, como a que acompanhou a revolução grega em 1821 e a de 1886. Finalmente, em 1898, os turcos foram expulsos e Creta conseguiu autonomia sob um alto comissário, o príncipe Jorge, filho mais moço do rei da Grécia. Em 1905, outra rebelião forçou a declaração de independência da ilha. Somente em 1913 Creta uniu-se à Grécia.

Arquitetura e Arte

Desde seu primitivo povoamento neolítico, a ilha de Creta insere-se na evolução histórica do Mediterrâneo oriental como ponto de encontro entre a Grécia continental e o Oriente Próximo, durante o terceiro e segundo milênios antes da era cristã. Em contato permanente com as civilizações do Crescente Fértil, as cidades da costa e do interior de Creta receberam inúmeras contribuições dos maiores centros asiáticos e, por vezes, fizeram refluir suas próprias criações em sociedades altamente desenvolvidas como as do Egito, de Mari, de Ugarit etc.

A meio caminho entre Oriente e Ocidente, Creta foi o trampolim natural pelo qual as culturas egípcia e mesopotâmica penetrariam na Europa. É compreensível, assim, que a arte cretense tenha reposto em uso técnicas e formas egípcias ou mesopotâmicas - a escultura em vasos de pedra, a pictografia - caracterizando-se por uma profunda originalidade na transposição e na criação de novos traços. Todavia, ao contrário da arte egípcia e da mesopotâmica, a minóica é secular: não existem templos ou túmulos, pois o culto aos mortos acha-se ausente dessa sociedade graciosa e sofisticada.

Não há nas artes, e muito menos na arquitetura, traços de ritos sacrificais religiosos. A civilização tipicamente insular de Creta exigia, como principais temas decorativos, motivos marinhos ou florais, apoiados na mais funda observação. Essa observação atenta da natureza achava-se presente, por exemplo, nos murais que decoravam a sala do trono do palácio de Cnossos, identificando-se um estilo naturalista na pintura da paisagem da praia setentrional de Cnossos, estreita faixa arenosa, limitada por três linhas paralelas de montanhas. Os minoanos foram os grandes metalúrgicos da antiguidade e era natural que a partir da Idade do Bronze impusessem seu jugo aos povos vizinhos, aos quais marcariam igualmente em mais de um traço cultural.

A arquitetura cretense usou diversos materiais, numa infinita variedade formal. O templo era uma forma desconhecida; existia em lugar dele, no palácio, um pátio destinado a celebrações religiosas. O espaço interno era minúsculo e os vários aposentos propiciavam uma sensação de intimidade destituída de qualquer preocupação quanto a grandeza ou solenidade. O palácio de Cnossos mais se pareceria a uma série de depósitos e armazéns interligados: não é de admirar que tivesse originado a lenda do labirinto e do Minotauro, com seus meandros e falta de organicidade. A impressão geral é de liberdade, abertura. Outros palácios menos importantes foram achados em Festos e em Hagia Tríada. Em todos observa-se uma utilização abundante de colunas, destituídas de base e cogumeliformes, com o ábaco, no topo do capitel, similar ao dórico arcaico, uma forma possivelmente relacionada com o culto das árvores.

Ao contrário da egípcia, a pintura mural minóica é independente da escultura e fez uso do afresco, tal como hoje é conhecido, o que explica a animação e vivacidade de execução de muitas cenas, já que essa técnica exige rapidez de elaboração e mão segura, não admitindo correções ou repinturas. Exemplo típico é o piso dos "toureiros" no palácio de Cnossos.

Como a religião não a exigia, nem havia templos a decorar, são poucos os exemplos de escultura arquitetônica ou monumental. Os materiais nobres utilizados - bronze, marfim, ouro, prata, terracota, cobre, quando não um misto de ouro e marfim - pediam esculturas de pequenas dimensões, refinadas como todas as miniaturas. A praxe era a liberdade mais completa de concepção, como exemplificam as taças de Váfio.

A arte cretense atingiu um nível técnico bastante apurado na cerâmica. Em geral pouco variados, os padrões eram pintados em tinta preta sobre fundo claro ou vice-versa. Também as formas eram livres e elaboradas, algumas traindo a persistência de formatos e estilos primeiro testados em metal.

Em princípios do segundo milênio antes da era cristã, a tecnologia minóica atingiu o ápice na fabricação cerâmica, ao surgir o chamado estilo de Camares (ou Kamares). As séries mais representativas desse tipo de cerâmica provêm dos palácios de Cnossos e Festos, e nelas se observa uma excepcional utilização de cores combinadas (preto, amarelo, branco, vermelho), com predominância de temas naturalistas na ornamentação. As peças de cerâmica foram um dos veículos mais importantes na transmissão da cultura minóica aos sítios vizinhos, já que eram a embalagem em que os cretenses expediam, por via marítima, seus produtos para todo o Mediterrâneo.

Após a dominação de Creta por Micenas, por volta de 1400-1200 a.C., a civilização minóica desapareceu. A exemplo da maior parte dos outros centros de cultura mediterrâneos, Creta seria absorvida pela influência indo-européia, primeiro com os micenianos, depois com os helenos, e seus eventos passariam a inscrever-se na moldura do mundo clássico grego, tanto durante o apogeu deste, como em seu declínio e história posteriores.

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